José Elias Pereira – Cadeira nº. 31

Num pequeno torrão montanhoso, lá, no município de João Pinheiro, Noroeste de Minas – Minas das Gerais - no pé de uma serra, no início do século XX, em meio ao cerrado, em meio a veredas, portentosos buritis e tropeiros a pisotearem aquelas terras vermelhas da cultura do solo rico, tão decantados por Guimarães Rosa, nascia Zé – Zé do João Elias – Zé Elias – meu pai, José Elias Pereira.

Menino franzino e expedito, nasceu ali, no dia 13 de fevereiro de 1926, a correr por aquele cerrado misturado com a caatinga do Noroeste de Minas, abrindo porteiras para ganhar um níquel – nasceu na riqueza de menino pobre, do sertão diferente – do sertão verdejante abraçado por montes, montanhas e o céu azul!

Cresceu no pagode da roça, ao som da viola do irmão mais velho, Catarino - folião afamado por toda região e vendo seu pai, devoto cristão, com pés nus, atravessar fogueiras na fé inquebrantável do sertanejo corajoso e temente – temente a Deus. Temente a Nossa Senhora – temente à mãe querida que sempre lhe protegeu, no embalo materno do menino que aos 6 anos, ficara órfão da mãe Ana.

Dia doloroso - um parto custoso levou a vida da mãe Ana. Aninha. Ana Luiza de Paiva – vizinhos de roça, a correr naquela tarde já meio escura, e Zé com a mãe já sobre a mesa de madeira tosca, coberta por fino tecido que mostrava, naquele semblante sem vida, os vincos da dor e da força da mulher de vida extremada – da mulher forte, mãe de mais 8 filhos – mostrava, por derradeiras horas, a mãe que viveu na rusticidade do sertão das Gerais, doando carinho no desamparo dos filhos... Foi-se, a mãe Aninha, tão querida, aos 33 anos, seguindo Cristo - tão cedo e já tão judiada pela vida, essa moça de pele queimada pelo Sol das Minas - das Montanhas Gerais.

Foi crescendo Zé, carreando boi – viajando até São Pedro da Ponte Firme, levando, em carro chiador de bois carreiros, rapaduras pra vendinha do Firmino. De lá, seguia até Lagoa Grande, lá na beira do Rio da Prata – foi vivendo Zeilias, no afago da vida difícil de filho de agregado – o pai, nascido rústico e sertanejo, causava estranheza por saber ler e escrever - coisa difícil por aquelas bandas, de gente nascida lá nos confins do século XIX – João Elias, sozinho de esposa, vencida pela morte prematura, lutava para cuidar de tantos filhos.

Em 2015, no dia 9 de abril, numa manhã triste e trágica para nossa família, aos 89 anos, o menino pobre que nasceu na Fazenda Gameleira, em João Pinheiro, e que chegaria a Gerente de Banco, faria sua última transferência - Sua última viagem, até, claro, sua volta em uma nova e construtiva reencarnação. Teve uma vida longa e útil, de qualidade superior. Viveu e exercitou a honestidade a probidade e a integridade, com maestria. Foi um justo numa terra de expiação e soube ser grande dentro do seu pequeno mundo.