Fernandino Barbosa – Cadeira nº. 10
A magia da Academia é a mesma: seja nas primeiras arcádias, seja nas academias inglesa ou francesa, esta última, nosso espelho.
Porém, para esta magia perdurar, algo de nefasto tira o brilho da concorrência para a eleição. Para que a ufania de um acadêmico aconteça, faz-se necessária a morte de outro. Para nosso riso há-se de ter o pranto. E aqui hoje, vivo os dois sentimentos, pois minha ação ao prantear meu antecessor nesta cadeira iguala-se na intensidade de minha alegria. Em sua buliçosa trajetória de vida, o mineiro Fernandino Barbosa, nesta terra, continua crepitando o rastilho de fogo polêmico, uma pólvora próxima da fagulha, a brasa da discórdia, como bem disse Osvaldo Orico em um de seus textos.
Na verdade, a profusão de coisas personificadas em Fernandino Barbosa tem para mim um caráter muito melancólico. De muita saudade. De muita tristeza, de muito querer... Remonto nossa última conversa. Falávamos sobre Clarice Lispector. Eu, um neófito estudante do curso de Letras, amante da literatura modernista; ele, um ermitão em suas leituras místicas que, diga-se de passagem, também aprecio. Nesta feita, ele me dizia que o melhor de Lispector era a obra Perto do Coração Selvagem, e eu apaixonado pela elegia e pelos oprimidos dizia ser A Hora da Estrela, não o convenci, nem ele a mim. Mas concensuamos que A Menor Mulher do Mundo deveria ser o ponto de encontro de nossa conversa. Encerrei o assunto com uma parte muito afetiva de Rodrigo S.M., narrador da história de Macabéa, que assim disse:
“...e acreditava em anjos e porque ela acreditava, eles existiam.”
Fernandino, também, acreditava piamente em anjos, elfos, duendes, bruxas, e todos quantos fossem os seres místicos que habitassem o Universo. Penso que seus textos publicados no inesquecível O Liberal eram uma prova viva de que Fernandino podia ser o habitante de dois mundos, e para mim, ele é. Está lá e aqui. Principalmente hoje, em minha memória.
Escritor de todos os gêneros me mostrou uma novela que estava a juntar economias para publicar. Um fenômeno perdido com o seu desaparecimento. Ao lado de sua Terezinha, foi um esposo extremado, amigo de quem era amigo, caridoso, bom pai... Não tolheu o sonho dos filhos, que voaram, voaram muito.
Agradeço-lhe cada orientação. Cada bronca. Cada dia vivido ao lado dele. Graças ao meu antecessor Fernandino, pude ser encaminhado para o curso que mudou minha vida, e hoje é o arrimo de meu lar. E como dizíamos frateres e sorores rosacruzes “Per benedictionem Rosae Crucis”.